Friday, March 09, 2007

Parte V - Genesis of Mind


O céu ostentava um aspecto levemente tenebroso, a brisa gélida infiltrava-se por entre os vãos mais estreitos apenas para acariciar o doce calor de alguma pele até por fim captura-lo.

Na elegante sala de estar do imenso e sombrio castelo encontrava-se a pequena presença. Embrulhada em uma manta verde e prata ela se deixava acolher pelo conforto das almofadas do suntuoso sofá enquanto as chamas consumiam a madeira fornecendo calor ao local.

Os olhos azuis passeavam pelas folhas amareladas do livro que possuía um grande significado para si, por algum motivo mesmo após tantos anos junto ao objeto sentia-se constantemente atraída a uma releitura, até um pequeno e continuo som capturaram sua atenção.

Ecoando pelas paredes de pedra o barulho das botas crescia até desaparecer repentinamente, no mesmo instante em que a figura do rapaz de cabelos castanhos passou a preencher o campo de visão da jovem.

- O que você está lendo? – perguntou Mathieu, enquanto caminhava até onde estava Suzannah e acomodava-se no sofá próximo a ela.

- É um livro de histórias infantis. – após um breve momento em silêncio ela continuou. – Minha mãe me presenteou com ele em meu primeiro natal e ela costumava ler para mim mesmo quando eu era pequena em demasia para sequer entender suas palavras.

Mathieu apenas ouviu as palavras da jovem em silêncio, a voz dela soava neutra embora quando se observava as profundezas do mar azul e tempestuoso que eram as orbes dela percebia-se certa melancolia. E ele nunca sabia o que dizer quando ela lhe confiava informações assim, profundas e de certo modo tristes. E sentir-se perdido e sem saber como proceder era algo que definitivamente o incomodava.

- Literatura infantil. – ele comentou, fazendo uma pausa e voltando a falar com tom irônico e divertido. – Que pirralha!

Em uma resposta muda Suzannah apenas lançou um olhar mortal para o rapaz, porém o riso divertido dele chamou-lhe a atenção. Não se lembrava de ver aquele riso leve e solto, totalmente desprovido de amargura ou ironia, em muito tempo.

- Ei! Qual é a graça? Eu quero rir também. – uma voz masculina soou na direção da lareira.

Mathieu parou de rir assim que reconheceu a voz de Julian, dirigindo sua atenção ao rapaz percebeu que junto a ele havia mais dois semblantes conhecidos tomando forma entre as chamas verde-esmeralda.

Suzannah espantou-se por não ter notado a chegada dos três, seus instintos nunca falhavam em avisar-lhe sobre presenças estranhas ou conhecidas no mesmo ambiente que a sua própria.

- Trowa olha isso! É impressão minha ou esses dois estavam conversando numa boa? Cara, eles nem tem marcas de lutas! Não acredito que ficaram no mesmo lugar sem tentar se matar. – comentou o jovem Gauthier em tom de gozação.

- Quem está pedindo para morrer aqui é você Julian. – comentou Mathieu, voltando a utilizar seu habitual tom de ironia.

- Sou obrigada a concordar. – disse Suzannah.

Julian entreabriu os lábios em uma tentativa verbal de se defender, porém as palavras que se iniciaram morreram com a chegada de uma animada Annita:

- Oh minha nossa! Como esses meninos cresceram! – disse a mulher de olhos cor-de-mel, observando atentamente os recém chegados. – Estão cada dia mais bonitos também.

Gauthier riu, caminhando para a governanta com os braços abertos:

- Tia Ann, a senhora é meu anjo da guarda! Juro que se pudesse me casaria com você. – disse ele, envolvendo Annita em um apertado abraço e levantado-a alguns centímetros do chão.

- Cuidado com o que diz, Julian. Isso pode e vai ser usado contra você. Ou por acaso já se esqueceu de uma certa garota que ficou lá em Hogwarts? – ameaçou Mathieu, os braços cruzados e sobrancelhas arqueadas.

Julianus restringiu-se a mostrar o dedo do meio para Mat, antes de voltar-se para uma vez para a governanta:

- E então tia Ann, o que vai para o jantar? A senhora fez aquele lombo de porco assado, não fez? – o rapaz perguntou parecendo, por um instante, ter voltado a ser uma criança.

Annita riu divertida jamais poderia dizer o quanto apreciava a presença dos garotos, a casa sempre parecia mais alegre quando eles resolviam visita-los.

- É claro, meu querido. Não se preocupe que uma coisa que vocês não passarão é fome. – ela então soltou-se do abraço de Julian para poder cumprimentar Trowa e a jovem desconhecida. Observou a garota discretamente, era dona de uma beleza tão pura e angelical quanto a de Suzannah. Na realidade as duas jovens em muito se assemelhavam. – Será que ninguém vai me apresentar a esta senhorita? – comentou a tutora, parada em frente a jovem.

Suzannah aproximou-se das duas e com um sorriso suave dirigiu-se a outra garota:

- Bem vinda a Donan. – após uma breve pausa Suzannah continuou. – Tia Ann está é Adhara Ivory, a amiga de Hogwarts de quem já lhe falei. Adhara, Annita Wollsky é minha tutora e a pessoa que me criou desde que vim para Donan.

- É um prazer conhece-la, senhorita Ivory. Como Suzze disse, seja muito bem vinda a Donan, se precisar de qualquer coisa é só me pedir.

- Digo o mesmo, Mrs. Wollsky. Obrigada pela sua hospitalidade. – Adhara agradeceu com uma ligeira reverência.

Com um sorriso, Annita conduziu os jovens recém chegados para os seus aposentos, instruindo-os a deixarem as bagagens ali mesmo, pois alguns elfos as apanhariam depois.

Antes de deixar a sala, Adhara parou brevemente na porta da mesma e virou-se buscando um último vislumbre de Suzannah. O que encontrou foi uma expressão serena e um brilho de satisfação muito discreto insinuando-se nos olhos azuis. Ela sorriu de leve para a jovem Deveraux antes de permitir que a mão de Trowa, que segurava uma das suas, a puxasse definitivamente para fora do aposento.

O pensamento de que nos próximos dias teria a oportunidade de reconstruir o que quer que houvesse enfraquecido no elo que mantinha com Suzannah fez com que se sentisse, irremediavelmente, reconfortada.

No comments: