Friday, March 09, 2007

Parte VI - Storm


A pequena jovem caminhava pelos corredores cobertos de sombras, os pés descalços possuíam um andar tão suave que pareciam poder flutuar, os cabelos negros deslizavam pelas costas magras como um manto sedoso e a pele pálida atribuía-lhe um aspecto fantasmagórico.

- Então você já fez as pazes com a Suzannah?

Ela estancou ao ouvir o seu nome sendo pronunciado na voz de Julian. O tom perfeitamente audível mesmo através das paredes de pedra.

- Não sei exatamente ao que você se refere com “fazer as pazes”...

- Vocês pareciam bem mais próximos quando nós chegamos. – uma terceira voz, a qual não poderia pertencer a outro senão Trowa, interrompeu Mathieu.

- Por “bem mais próximos” ele quer dizer “não estavam tentando matar um ao outro”.

Suzannah franziu o cenho. Não sabia se lamentava ou ficava impressionada com a constante indiscrição de Julianus.

Uma pausa se seguiu antes que a voz do monitor-chefe soasse novamente. Mas desta vez em um tom tão baixo, quase como se temesse ser ouvido, que a jovem quase teve problemas em identificar o seu conteúdo:

- Não há nada entre ela e o Kovac...

- Fico feliz por você finalmente ter se tocado disso. Só quero ver quanto tempo vai levar até perceber que a Suzannah não é a Alycia. – a fala de Gauthier continha um tom estranho, uma espécie de sarcasmo ligeiramente ácido. Algo que não costumava aflorar com freqüência, e menos ainda em uma conversa com seus amigos.

- Julian... – Trowa começou, em um claro tom de aviso, mas qualquer vã tentativa que o moreno pudesse ter feito para apaziguar a tempestade que ele sabia que viria, fora ruída quando a voz de Mathieu ergueu-se, alterada:

- Não fale o nome dessa vagabunda na minha frente!

Assim que as palavras duras e rudes de Mathieu chegaram até os ouvidos da jovem de olhos azuis um sentimento intrigante tomou conta do pequeno ser. Jamais havia ouvido o rapaz referir-se a alguém daquele modo.

O silêncio recaiu sobre o corredor. Um silêncio longo e impenetrável, que parecia sugar o ar como um buraco negro.

A situação arrastou-se pelo que pareceram alguns minutos antes de um suspiro pesado, quase exasperado, se fazer ouvir.

- Desculpe.

Suzannah piscou, estranhando imensamente ouvir tal palavra na voz de Mathieu. Se a voz do grifinório não fosse facilmente reconhecível entre as demais, a garota poderia jurar que estava confundindo-a com a de outra pessoa.

- Tudo bem, depois de tantos anos já me acostumei a ter você gritando comigo. – Julian parecia cansado e, mais do que isso, frustrado – Mas ainda mantenho a minha opinião de que mesmo que a Alycia tenha sido uma vagabunda por ter lhe traído do jeito como traiu, ainda não justifica que você passe o resto da vida descontando a sua amargura na Suzannah.

- Você fala como se não tivesse feito algo parecido. – retorquiu Mat.

- Vamos mudar de assunto. Não vai ser de muita valia ficar remexendo no passado. – disse Trowa, tentando evitar que mais uma discussão surgisse. Felizmente, os outros dois rapazes não apresentaram resistências ao seu pedido.

Em meio as sombras a jovem permanecia imóvel como se cada uma das palavras proferidas pelos três rapazes fossem pequenas doses de paralisantes. Em sua mente fragmentos de um tempo distante ganhavam um sentido nunca antes revelado.

Naquele momento ela finalmente podia entender o motivo do relacionamento frio e distante, embora sempre polido, que ela e Mathieu mantinham quando se conheceram ter se transformado na constante de conturbações e rancores em que eles viviam até aquele feriado natalino.

Na tentativa de ignorar aquele sentimento que queimava em seu peito Suzannah observou através da escuridão o imenso corredor vazio e ao fazê-lo as orbes azuis acabaram por deparar-se com uma porta em especial, era o quarto destinado a Adhara.

Sem muito esforço suas pernas iniciaram um andar calmo na direção indicada pelo tempestuoso e obscuro mar azul.

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