Friday, March 09, 2007

Parte VIII - Shadow of Love


A brisa matinal acariciava a pele pálida e suave da jovem de olhos azuis como o céu da meia-noite, cujas costas recostava levemente no arco de pedras da entrada da imensa construção, ao mesmo tempo em que dançava por entre os fios negros e sedosos do cabelo que encontrava-se frouxamente preso em um rabo de cavalo.

Não demorou até que os ouvidos sensíveis captassem a chegada de alguém, mas ela não desviou seu olhar do céu. Ela sabia quem se aproximava e por mais estranho que soasse não era pelo fato dela própria ter mandado chama-lo, mas de algum modo em um espaço de tempo desconhecido reconhecer a presença dele havia se tornado natural.

- Annita disse que você queria falar comigo.

- Trouxe sua vassoura? – ela perguntou.

Em uma resposta muda ele afirmou fazendo um gesto breve com a cabeça. Não entendia o motivo de Suzannah ter-lhe chamado, mas na realidade não era este fato que o incomodava. Ainda sentia-se irritado pelas provocações proferidas por Julian.

Suzannah não pronunciou som algum, montou em sua vassoura levantando vôo com rapidez e habilidade deixando Mathieu com a opção de segui-la.

Cortando os céus os dois atravessaram a região montanhosa que protegia o castelo e sobrevoavam os intermináveis campos pertencentes aos McKinnon. Não era raro ver imensas construções em meio a estes campos, pois estas eram as estufas utilizadas para estudo ou produção de ervas mágicas.

Algum tempo se passou até que as regiões povoadas ficassem para trás e Suzannah, seguida por Mathieu, pousasse em uma elevação de rochas e terra. Era um lugar amplo e isolado, dono de uma paisagem que englobava praticamente todos os blocos de terras pertencentes ao clã. Na região central daquela elevação havia uma única árvore, grande e vistosa.

Suzannah deixou a vassoura deslizar por seus pequenos dedos enluvados até afundar na camada de neve que cobria a superfície de terra. Virou-se para Mathieu e o encarou com uma pose altiva.

- Ouvi sua conversa com Julian e Trowa ontem a noite. – ela disse com um tom calmo, porém cuidadoso.

As palavras da jovem causaram-lhe um arrepio horripilante seguido pela frustração do imenso desejo de evitar o inevitável. Suzannah não podia ter ouvido sobre ela!

- Você não tinha esse direito!

A expressão anteriormente inexpressiva da jovem tornou-se gélida.

- E você Mathieu, acha que possui todos os direitos do mundo? Acredita ser algum tipo de deus por um acaso? Quem diabos você pensa que é para condenar alguém pelos crimes de outra pessoa? – a voz da jovem possuía um leve tom de ironia.

- Quanta prepotência Suzannah. Lamento informar, mas você não é tão importante assim. - ele rebateu também com ironia.

Mathieu podia sentir a ira fervilhando em suas veias. Um sentimento intenso que a muito tempo havia sido aprisionado em um canto escuro de sua alma.

- Está tentando enganar a mim ou a si mesmo?

- Faça um favor a nós dois e esqueça essa maldita história. – ele rebateu com amargura.

- E o que eu ganho com isso? As grosserias de alguém amargurado? Uma vingança sem sentido?

- Chega! Eu não tenho que ficar aqui congelando apenas para ouvir suas bobagens. – Mathieu respondeu enquanto agarrava sua vassoura.

- EU NÃO SOU ELA! – gritou Suzannah, deixando a irritação e os demais sentimentos confusos se libertassem através de suas palavras.

- EU SEI! – ele respondeu, libertando também toda a tensão que lhe sufocava.

Largando a vassoura abruptamente ele caminhou com passos rápidos até a jovem, segurando-a pelos ombros e perdendo-se nas turbulentas águas azuis dos olhos dela.

Um mar intenso e infinitamente profundo, com águas obscuras e gélidas que poderiam afastar até a mais corajosa das pessoas. E apesar daquele poder que parecia constantemente repelir aos demais, ele sentiu-se englobado e acolhido por uma corrente de águas quentes. Mathieu também não conseguiu evitar a sensação de estar exposto, como se nada nem ninguém possuísse o poder de impedir a jovem de vasculhar sua alma.

Quando um pequeno fio de consciência passou por sua mente ele já podia sentir a respiração de Suzannah em seu rosto. Deslizando uma das mãos pela nuca da jovem e a outra na cintura almofadada pelas grossas vestes ele puxou-a para si, completando o espaço que anteriormente existia entre ambos.

O contato começou tímido e suave, mas foi guiado por Mathieu a um beijo intenso, interrompido apenas quando ambos encontravam-se sem fôlego.

Levemente ofegante nenhum dos dois se afastou mais do que o necessário para recuperarem o ar e o faziam sem desviar os olhares.

- Não pedirei desculpas. – ele afirmou, fazendo uma breve pausa e voltando a falar em seguida. - Por motivo algum.

- Eu não espero que o faça. – ela respondeu com uma voz suave.

Retirando as luvas ela levou as mãos até o rosto de Mathieu, deslizando os dedos finos pelas feições másculas do rapaz. Em seguida ergueu ligeiramente os pés elevando seu rosto até bem perto do dele, encarando mais profundamente as orbes azul-esverdeadas antes dos lábios voltarem a se encontrar.

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