Monday, February 26, 2007

Parte I - The Return

Parte I - The Return


“O futuro sem fim continua caminhando para seus olhos.”


Em meio as imensas chamas esverdeadas surgia um belo rosto de boneca, a face pálida que ostentava os intensos olhos azuis como o céu da meia-noite encontrava-se parcialmente coberto pelas madeixas negras e finas.

A jovem de estatura pequena e magra, atravessava a imponente e elegante lareira do castelo de Donan. Ela perdeu seu olhar naquele belo mundo que a envolvia, demorando-se em cada detalhe, era incrível o modo como sentia falta daquele lugar.

Abriu a mão direita permitindo que a pequena maleta deslizasse por seus dedos até tocar o imenso e macio tapete, cujos desenhos elegantemente trabalhados nos mais diversos tons de marrom enfeitavam o objeto que cobria quase todo o chão de pedras.

Mas não tardou até que Suzannah fosse arrancada de seus devaneios por braços magros e calorosos que a envolviam.

- Seja bem vinda ao lar, querida. – disse a voz suave e maternal de sua tutora.

O perfume adocicado de Annita penetrava-lhe as narinas. As madeixas sedosas acariciavam-lhe a pele, e o abraço quente impedia que o frio das gélidas paredes de pedra roubassem-lhe o calor da pele pálida.

Ao soltar Suzzanah do abraço, Annita passou um longo tempo analisando a jovem.

- Oh meu Merlin! Olhe só para você está muito magra e mais pálida do que o habitual, devem faltar no mínimo umas 3 ou 4 vitaminas em seu organismo. Querida, você andou esquecendo de tomar sua poção antes de dormir? Está com um pouco de olheiras. Mais tarde quero examiná-la com cuidado. – disse a mulher de olhos cor-de-mel com um sorriso doce nos lábios avermelhados.

Suzannah não tinha sua atenção presa nas palavras da tutora, também não se incomodava com o excessivo cuidado que a mulher tinha em relação a si. Enquanto a mente mantinha-se ocupada, a jovem de olhos azuis acomodou-se no sofá seguida por Annita.

- Preparei biscoitos e aquele café com chocolate derretido que você adora. – anunciou a mulher com um sorriso. – Asgard!

Assim que o nome ecoou nas paredes de pedras o pequeno ser surgiu em frente das duas, fazendo uma reverencia discreta e séria. O elfo doméstico virou-se para Suzannah cumprimentando-a e em seguida voltou sua atenção para Annita que ordenou que ele servisse os biscoitos e o café.

Não demorou até que Asgard cumprisse seu dever e se retirasse tão silencioso quanto uma sombra. Muito velho e com modos excelentemente treinados ele era o único elfo doméstico que tinha permissão para falar e servir aos mestres de Donan, os demais podiam se dirigir apenas a Annita que era a responsável pela organização do castelo e pelo bem estar de seus habitantes.

- Onde o meu avô está? – perguntou a sonserina aceitando a pequena xícara de café que lhe era oferecida.

- Lamento meu bem, mas ele viajou faz alguns dias e não informou quando voltaria. Creio que ele não vá passar o natal conosco. - Annita deixou que sua fala morresse por alguns instantes, porém voltou a tagarelar com alegria. - E por falar em natal o jovem Mathieu escreveu dizendo que iria para casa por alguns dias para resolver alguns assuntos, mas chegaria no dia 23 para as festividades de final de ano. Ora! Que besteira a minha ficar lhe dizendo essas coisas, certamente ele já deve ter lhe contado.

Suzannah sentiu um leve desconforto ao ouvir sobre Mathieu, vários dias se passaram sem que os dois trocassem se quer um “olá”. Perdida no tempo, ela se perguntou quantas horas, minutos e segundos haviam transcorrido exatamente desde a última vez que o vira em algum corredor. Mas logo deixou tal pensamento de lado devido a falta de importância que ele possuía.

Até mesmo pelo fato de que seus dias foram muito atarefados nos últimos tempos, estudos, treinos, aulas e atividades extra-curriculares por assim dizer. Ínfimo era o tempo que dedicava a alguém e novamente sua maior companhia havia ser tornado a tão conhecida solidão.

Ao longe podia ouvir sua tutora tagarelando sobre algum assunto qualquer, sem prestar a devida atenção Suzannah deixava sua mente vagar e respondia a mulher mais velha apenas quando ela lhe fazia alguma pergunta. Mas não demorou até que a senhora decidisse preparar o jantar, e se retirasse do luxuoso ambiente.

Como uma sombra a jovem de olhos azuis deslizava com passos suaves pela superfície pedregosa do chão de um dos milhares de corredores do castelo, foi um longo caminho até que finalmente chegasse na pequena escadaria que terminava em seus aposentos.

Suzannah observou com atenção cada mínimo detalhe do lugar. Em pontos estratégicos encontravam-se posicionadas elegantes luminárias, e as longas cortinas de tecido suave e negro como breu deslizavam pelas grossas vidraças impedindo a visão do belo horizonte. No lado direito do quarto havia uma imensa cama de madeira escura cujos detalhes refinados quebravam qualquer traço rústico que o objeto pudesse ter. O tecido fino do dossel havia sido substituído por um de veludo devido ao clima gélido daquela época do ano.

Na parede lateral bem perto da cama havia uma poltrona de forro escuro, um pouco mais adiante bem em frente a uma ampla janela localizava-se uma pequena mesa e duas cadeiras no mesmo estilo do leito e das imensas prateleiras, fixadas na outra extremidade do aposento.

Milhares eram os rostos angelicais de porcelana das encantadoras bonecas que enfeitavam as largas estantes, haviam também muitos enfeites de vidro e prata, além de objetos trouxas e alguns itens mágicos. Grande parte de tudo fora presente de Annita.

Ao passear com o olhar mais uma vez a atenção das orbes azuis foram capturadas pela dança suave das chamas da lareira. Toda aquela observação parecia um ritual que repetia-se incansavelmente a cada retorno que ela fazia a Donan, era como se sua memória não tivesse forças para abrigar os detalhes de suas lembranças e por este motivo ela era obrigada a mantê-las sempre vivas.

Após um pequeno suspiro a jovem Deveraux caminhou até os outros ambientes de seu quarto, a ampla sala de estudos onde encontravam-se todos os seus livros, o espaçoso armário de roupas, sapatos e demais acessórios e por fim o banheiro.

E antes que tivesse que descer novamente para o jantar Suzannah deixou suas tensões esvaírem-se dos pequenos músculos ao mergulhar o corpo em uma banheira de água muito quente. Enquanto sua mente vagava nas possibilidades guardadas pelo tempo que estava por vir, por aquilo que chamavam de futuro.


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N/A: a citação é um trecho da música Niji da banda L'Arc~en~Ciel. Imagem ilustrativa do Castelo de Eilean Donan editada por Suzannah.