Monday, February 26, 2007

Parte II - Falsas Crenças

Parte II - Falsas Crenças


“O constante banho dos raios de sol irá apagar as pegadas restantes no fino gelo.
Não tema quando você for iludido, porque o mundo já está cheio de decepções.”


Os pequenos e gélidos flocos brancos deslizavam do céu em uma suave dança até alguma superfície em que pudessem repousar.

Em uma das inúmeras lojas trouxas localizadas no centro de Londres encontrava-se a pequena jovem de rosto angelical que mantinha os intensos olhos azuis como o céu da meia noite vagando pelos diversos objetos das amplas prateleiras pertencentes ao estabelecimento.

Aquele era o dia do ano em que ela deixava o conforto do Castelo de Donan para juntar-se as multidões na busca pelos singelos presentes de natal. Visitando tanto lojas bruxas quanto trouxas ela tentava encontrar o objeto que pudessem agradar as poucas pessoas a quem ela enviaria a lembrança natalina. Foram várias horas até que Annita desse o dia por encerrado e os bolsos de Suzannah já se encontravam repletos de embrulhos magicamente minimizados ao contrário da tutora que havia preferido carregar cada uma das sacolas que comprara.

- E então querida vamos voltar para o castelo? – perguntou a mulher mais velha sem esconder a animação que o dia havia lhe proporcionado.

- Pode ir. Quero ficar mais algum tempo. – foi a resposta simples da sonserina.

- Tem certeza? Não sei se é bom você ficar sozinha, o mundo está tão virado nos últimos tempos. – disse Annita, a preocupação tomando o lugar da animação anteriormente dominante na mulher de cabelos castanhos e olhos cor-de-mel.

- Ficarei bem.

Annita não conseguiu evitar que um suspiro pesado escapasse de seus lábios ao ver a pequena figura de Suzannah se distanciando até finalmente virar uma esquina e desaparecer de seu campo de visão.

Seguindo seu próprio rumo, a tutora não era capaz de amenizar o aperto em seu coração. Deixar a jovem de olhos azuis sozinha nas atuais circunstâncias não lhe agradava em nada, porém era um verdadeiro milagre que a menina desejasse passar algum tempo em um lugar aberto e arejado ao invés de permanecer trancada horas a fio em um dos imensos e gélidos aposentos do castelo de Donan e era exatamente por este motivo que Annita não se sentia no direito de impedi-la.

Mesmo inconformada a senhora voltou para Donan, afinal haviam muitas tarefas aguardando seu retorno.

Caminhando em um ritmo suave e lento, Suzannah deixava-se guiar por seus próprios pés parando apenas algum tempo depois de fronte para uma imensa vidraça que pertencia a um café. Sem ponderar muito ela adentrou o local escolhendo uma mesa no canto mais isolado do ambiente.

Logo a jovem garçonete apareceu para anotar seu pedido e Suzannah optou por uma xícara de café expresso. Quando deu por si já estava sorvendo pequenos goles do líquido quente. Podia sentir o calor espalhando-se por seu corpo, fornecendo-lhe uma leve sensação de aconchego e não conseguiu evitar o pensamento de que realmente deveria fazer passeios como aquele com maior freqüência.

Assim que o líquido negro chegou ao fim Suzannah pagou a conta e deixou o local, voltando a caminhar pelas ruelas do desconhecido bairro trouxa.

Mesmo que soubesse voltar ao ponto onde deixara Annita, a jovem não fazia idéia do local onde se encontrava e aquele pensamento lhe pareceu deveras agradável. Era um ambiente solitário e silencioso para alguém estranho como ela, ocupadas as pessoas não notavam umas as outras e provavelmente se quer prestavam atenção no ambiente a sua volta.

De onde estava podia ver no final da rua um pequeno parque coberto pela neve e graças a baixa temperatura abandonado pelas almas vivas das redondezas. Por algum motivo desconhecido Suzannah caminhou até o local, retirando com a mão enluvada a neve sobre o assento de madeira para que pudesse acomodar-se nele e perder seu olhar na paisagem a sua volta.

As palavras dele ainda ecoavam em sua mente. Havia ficado acordada até tarde, pesquisando sobre o diário de sua mãe quando ouviu Roderick chegar em casa e sem pensar duas vezes foi questionar o bisavô sobre Godfrey McKinnon.

“Jamais lhe foi imposta crença alguma, sempre há uma escolha e a tua foi aconchegar-se na comodidade do que teus olhos lhe mostravam.”

O maior impacto que tais palavras podiam causar era justamente pelo fato de não serem nada além da verdade, Godfrey sempre vivera em sua mente e ela sempre se recusara a acreditar que ele não passava de uma ilusão.

Ela não sabia quanto tempo havia se passado, mas o céu já encontrava-se repleto de brilhantes estrelas quando seus pensamentos foram interrompidos por alguém que se aproximou lentamente até tocar um de seus ombros pequenos e magros.

Continua na Parte III.



N/A: citação retirada do mangá Bleach, Volume 16. A base e as peças da doll pertencem ao site Madame Malkins

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